sexta-feira, 28 de julho de 2017

A liberdade em relação à opinião alheia começa com a liberdade em relação à própria opinião. Há um tirano em nós, com a voz imponente, que se acha invencível, intransponível. Esse ditador interno é filho do passado - forjado no fogo dos acontecimentos pretéritos - e pode nos ajudar muitas vezes (como realmente faz), mas o que acontece, o que não devemos esquecer, é que a vida é mutante e que situações novas e complexas exigem atitudes igualmente novas e complexas. Prepare-se: você precisará guilhotinar o seu ditador algumas vezes.

Estes poucos cômodos, este espaço é tudo de que preciso. O espaço-laço que me une a mim. Da porta de casa pra rua, pra fora, é um universo estranho, de pontas, arestas onde me arranho. Este meu espaço é tudo, macias, estas paredes de veludo. Volto pra casa, e me dou um abraço carinhoso, o ápice do dia, sempiterno gozo.

Por mais que tente fugir do poema, a minha escrita está sempre impregnada de rimas. Inconscientemente me encaminho para o carinho do verso. Mesmo que eu tome outro rumo, meu GPS interno sempre aponta para um norte poético. Como se as palavras só conseguissem ser retiradas do caldeirão fervilhante da possibilidade para estarem finalmente no papel se impulsionadas por uma associação musical, rítmica. Eis a minha limitação.
Por isso (penso agora) me parece tão difícil manter uma conversação comum, cotidiana. Minha cabeça precisa sintonizar a música interna para poder se expressar. E acaba que, no correr da vida, não há tempo para esse tipo de procedimento. As coisas devem ser ditas num espaço curto, as coisas devem ser feitas, não há tempo para a tentativa de beleza, para as palavras eleitas. Minha vida diária assim como a sua devem ser servidas sem tempero - e cruas.   

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