segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

    Essa ânsia de ser visto, lido, apreciado. Estava nele; e ele totalmente imerso nela. Escrever, escrever, escrever e ver tudo o que se escreve afundar, longe da superfície, longe dos olhos alheios: eis o seu pior pesadelo.
    Uma solução possível seria infiltrar seus textos em jornais, revistas, sei lá, publicações. Mas deveriam ser impressas. Sim, ver as palavras paridas do seu ser impressas, expostas numa folha de papel, essa sim uma epifania, uma realização portentosa.
    Mas, como? Eu conheço alguém que conhece outro alguém que conhece um cara que trabalha num jornal. Um jornal de grande circulação, o principal da cidade, seria perfeito. É, ele conhece alguém. Questão de algumas ligações certas, saber de um jornalista de coluna em crise criativa, que não saiba mais o que escrever e pronto!, inserir aí o meu vírus, literário e letal.
    Naturalmente, seria ele nesse caso um escritor fantasma, ou, como os dados a estrangeirismos adoram dizer, um ghost writer.
    E, quem sabe, se, além da satisfação intelectual, ele pudesse tirar daí alguma vantagem financeira; o colunista agonizante, necessitando manter sua reputação, sei lá, quanto será que ele pagaria por um texto bem acabado? Vejam: as primeiras motivações nunca são materiais, digo mais: transcendem a matéria; as segundas, terceiras, quartas, sim, essas podem ter uma natureza mais mundana e vil.

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