quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

    Em qualquer lugar a natureza brota; resiste, bravamente, à tenaz voracidade do homem de rapina. Ao examinar cada fresta de calçada vejo brotar o vegetal, variegado, valente. Às potentes ambições humanas, está imune o céu, que perdurará, ainda que pereça todo o ozônio, ainda que o dióxido de carbono venha a prevalecer, na composição do ar, dentre todos os gases.
    Pensamentos como esses o bombardeiam enquanto caminha através das amplas rotas que cortam e ligam os vários complexos prediais.
    À visão do pombo que sorve a água que escorre do bico de uma torneira, vislumbra ele a terna ligação que ainda pode existir entre o homem e a natureza. Em essência e em verdade, os dois são um só: se nos referimos a eles como dois, é unicamente porque o homem, em sua soberba, em sua sede de domínio, decidiu estar por conta própria, órfão por opção, abandonando a mãe em busca de uma independência impossível. O homem faz parte da natureza. Mais: é a própria natureza, sendo apenas mais uma de suas manifestações. Assim como o Filho é ao mesmo tempo Deus, Pai e Espírito Santo.
    O destino, um dos prédios, não é nada se comparado à caminhada. É tão-somente acessório na sua vida: a burocracia do serviço público a serviço do seu sustento material. Assim como do seu sustento espiritual: porque, no fim das contas, além de lhe pagar as contas, a maçante labuta lhe compra os livros, financia suas noites em claro passadas em busca de uma frase, uma sentença qualquer que possa trazer mais vida à vida. Vida sua, vida dos outros.
 

2 comentários:

  1. Sempre mto bom ler suas palavras, nem durou meia horinha...Mas voltarei mais vezes, para que dure mais...

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    1. Jérula,
      Você não faz ideia do contentamento que o seu comentário ao meu pequeno pensamento digitado causou em mim! Vindo de você, uma inveterada companheira das letras, então! Muito obrigado!
      Pois é, nem meia horinha dura mesmo. Na realidade esse título saiu de uma fala do "Hermanoteu", uma peça da companhia de comédia "Os Melhores do Mundo". Simplesmente foi a primeira coisa que me veio em mente quando tive de colocar o título no blog. Ficou assim mesmo. De qualquer modo é uma ótima solução, essa encontrada por você: voltar mais vezes para que dure mais. E a felicidade na vida está mesmo distribuída assim: em pequenos pacotes, aos quais temos de ficar voltando sempre, para que durem mais, para que tenhamos esse gostinho de felicidade contínua, infinitamente renovada.
      Abraço!

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