quarta-feira, 28 de novembro de 2012

    "A pergunta, companheiros, que não quer, não pode calar: o que é que vocês 'tão fazendo aqui se não 'tão lutando, se não esbravejam contra as injustiças que veem serem cometidas pelos homens diante dos seus olhos?",  semblante em cólera, em uma cólera apaixonada, discursa ele aos seus camaradas, movido por questões morais em primeiro lugar. Impulsionado, porém, à reprimenda geral pelo nível alcoólico já estratosférico no sangue. Geralmente um rapaz introvertido e introspectivo: excepcional e alcoolicamente um orador, um líder nato de voz pastosa e passos incertos.
    Erguendo a fala, um dos exortados ameniza o tom, "Deixe disso, agora não é hora. A gente 'tá aqui pra se divertir...". Antes que pudesse concluir, o outro já responde, completando, "Diversão, sim, mas com responsabilidade!".
    "Que é que pode haver de responsabilidade num grupo de bêbados caindo pelas tabelas?! Mudança do mundo exige no mínimo, no mínimo, lucidez sensorial! Não acha?"
    "Sim, sim. Mas lúcido estou. Apesar dos sentidos se arrastando, este encéfalo", e bate com força e decisão o dedo indicador na fronte, "este emaranhado de neurônios, neurotransmissores e quiçá uma alma, este ser múltiplo encontra-se em perfeito domínio de suas faculdades intelectuais. Quatro cervejas não podem derrubar este titã!"
    Um outro amigo, muito observador, redargue, "Mas você só bebeu duas."
    De repente, o orador bêbado cai na gargalhada, daquelas psicóticas, de filme de psicopata. E, recuperando o fôlego, emenda: "Aaaaaah! Então traz mais duas geladas que agora é que eu 'tou começando!".


  

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